Previsões astrológicas

Previsões astrológicas

Professor Nettunnus Boccattus

Com doutorado em Astrologia, Numerologia, Leitura de Borra de Café, Leitura de Sola do Pé e Leitura de Carência Afetiva, o Professor Nettunnus Boccattus, além de apresentar um razoável grau de acerto em suas previsões, caracteriza-se por um temperamento franco, sem meias palavras. Muita gente ficou milionária por seguir seus conselhos, porém, mais gente ainda encontrou a ruína por acreditar nele. A escolha é sua caro (a) consulente (a).

Câncer

Canceriana, o que você está achando do Serra no senado? Apavorante, não? Dizem que o Serra só trabalha à noite porque, como todo vampiro, não pode receber a luz do dia. E o que isso tem a ver com você? Tudo, minha amiga, tudo. Simplesmente porque a Serra está à procura de uma secretária que fique com ele dentro do caixão, anotando suas (dele) ordens para a equipe. E essa mulher, devido à conjunção de sete planetas em torno da vulva de Vênus, será do signo de Câncer.

Capricórnio

O mês de maio será um teste rigoroso para você, capricorniana do primeiro decanato. Devido à conjunção da lua com saturno em sua décima casa decimal, você estará mais carente do que nunca.

No início da segunda quinzena poderá entrar em desespero e em atitude extrema vai querer se inscrever como ativista no movimento Femem para participar pelada do protesto a favor dos pelos pubianos pintados de abóbora. Tente se controlar e durante os surtos, tome banhos gelados.

Escorpião

Notícia importante para as escorpianas fogosas: nos próximos capítulos, a minissérie Gabriela, Sodoma e Gomorra estará ainda mais tórrida. Fontes ligadas à emissora garantem que, procurando desesperadamente elevar os índices de audiência, a Globo deverá incrementar as cenas eróticas, levando ao ar uma transa de sexo a três: uma quenga, um coronel e um bode. O bode é para o coronel.

Libra

Período propício para desenvolver sua espiritualidade, libriana. Os astros sugerem que você vá sozinha para São Thomé das Letras, localizada no pico de uma montanha de pedra, incrustada na Serra da Mantiqueira, a 1.444 metros do nível do mar. O céu é muito azul e a cidade é envolvida por um vale intensamente verde, onde se escondem magníficas grutas, cachoeiras, cavernas sem fim e ladeiras. Escolha uma gruta e acampe nela por uma semana. Tome banhos diários na cachoeira e alimente-se de legumes e verduras crus. Se na primeira noite surgir um homem barbudo vestido de branco, é Messias, o vendedor de repelente, porque tem muito pernilongo. Depois de seis dias solitária naquela gruta, se surgir um cara musculoso, de short e camiseta regata, trata-se do Thomé, o aplacador de carências afetivas.

Peixes

Minha cara amiga pisciana, você anda ansiosa, angustiada, sem saber o motivo? Os astros tem duas perguntas a fazer e que podem lhe ajudar: 1- Há quanto tempo você não tem um orgasmo? 2 – Quantas horas por dia você passa no facebook?

Gêmeos

Querida geminiana, você tem lido muito, estudado bastante, ocupado o seu cérebro, procurando aprimorar sua educação e sua cultura? Recado dos astros: você está perdendo seu tempo, jamais alcançará o sucesso dessa maneira! Desenvolva os seus glúteos, minha amiga! Matricule-se na Escola de Coreografia Contemporânea de Carlinhos de Nazaré e aprenda a dança do momento das celebridades: “O Batidão das Nádegas”, na qual você desenvolverá o talento de tremelicar uma nádega de cada vez, no ritmo funkeiro.

Aquário

Aquariana do primeiro decanato: há quanto tempo você vive infeliz? Há quanto tempo a presença do seu marido a irrita? Há quanto tempo você sente um frisson quando Daniela Mercury aparece cantando na TV? Essa é uma semana propícia para você encarar a situação de frente.

Diga claramente para o seu marido que para a você a vida não gira em torno de cerveja, batatinha frita e escondidinho de carne seca. Informe que está indo embora, em busca da felicidade e que essa atende pelo nome de Daniela.

Capricórnio

Atenção, capricorniana recém separada de um executivo corrupto bem de vida, que a trocou pela secretária: existe uma tendência astral de você passar o mês no Guarujá. Na feirinha de artesanato da praia das Pitangueiras, você vai se encantar com um boliviano de boina colorida de tricô, colares de contas penduradas no pescoço, cabelos até a cintura e que tem uma banca  de pulseirinhas, anéis e brincos. Você achará que esse homem, o oposto do seu ex, encontrou um mundo novo, habitado pelo amor pleno e vai morar com ele numa barraca de camping na praia da Enseada. Uma semana depois, vai achar que esse novo mundo é bem menos maravilhoso do que supunha. Desesperada para tomar um banho de loja e almoçar no Fasano, você vai fugir de carona numa Kombi de caldo cana.

Virgem

Devido à entrada de Saturno em Vênus, os astros recomendam às virginianas em adiantado estado de carência, que curtam as férias na praia de nudismo Olho de Boi, em Búzios. Leve seus óculos escuros, porque alguns exibicionistas fazem questão de caminhar pela areia com os membros em riste. Graças aos óculos escuros, você poderá apreciá-los, sem que ninguém perceba e venha lhe acusar de não ter a civilidade necessária para freqüentar uma praia naturalista.

Leão

Homem de Leão, essa é a semana ideal para você colocar uma tiara de madrepérolas em seus cabelos revoltos, um camafeu com a foto de sua bisavó presa por alfinete em sua camiseta regata e, sobre ela, o seu casaco de general. Caso você não tenha o casaco, peça ao Jards Macalé. Caso você não tenha o telefone do Jards, peça para a Gal.

Áries

A Globo vai querer fazer uma reportagem com você e sua mulher sobre o sufoco que você está passando para pagar suas dívidas, e veicular no Jornal Nacional. Vocês, de banhinhos tomados, simpáticos, de roupas novas, bem penteados, fazendo contas da prestação do fogão, da geladeira, da TV, expondo-se orgulhosos diante das câmeras, como um belo exemplo de casal comportado. Que mico, hein!?!

Sagitário

Momento de recarregar as baterias, sagitariano. Se você não é um parlamentar, não está no mensalão e nem no petrolão, deve estar tendo enorme dificuldade para manter a família, carro, cartão de crédito, cheque especial e ainda cumprir com suas obrigações matrimonio-sexuais. Devido ao eclipse solar nos países baixos, sua situação tende a piorar. Invente uma viagem a trabalho, saia de cena para não continuar pagando mico, porque ereção, tão cedo, nem pensar.

Touro

Essa semana o sofisticado sapateiro Christian Laboutin estará atendendo às taurinas descalçadas, pelo preço simbólico de R$ 1. Para adquirir o seu par de calçados Laboutin você precisa provar que perdeu tudo o que tinha nesse governo Dilma, inclusive os sapatos, porque atendeu às orientações no governo Lula de aproveitar o crédito farto e cair de cabeça no consumo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Consultório Sentimental No7

Consultório Sentimental

Profissional responsável: Sexóloga Dra Abbddas Boccattus

Prezada Dra Abbddas,

Tenho 55 anos, pertenço a uma família paulista quatrocentona e acabo de me divorciar, depois de 26 anos de casamento.

Meu bisavô, italiano, chegou ao Brasil em 1890, com uma mão na frente e outra atrás, mas revelou-se um gênio empreendedor. Logo descobriu que o Brasil oferecia terreno fértil para instalação de propinodutos e que poderia ficar milionário. E foi assim que ele modernizou essa prática tão difundida hoje em todos os segmentos da sociedade e é responsável por grande parte das fortunas nacionais. Reafirmo com orgulho: meu bisavó Genaro Torteletta foi o grande precursor dos métodos corruptivos e, em meio século, construiu um império englobando vinte e duas empresas de diferentes setores.

Minha bisavó, sua esposa, era dançarina de cabaré no porto de Santos, quando o conheceu e em menos de um ano se casaram. Tiveram três filhos, mas era voz corrente que ela o traía com todo mundo, desde o motorista e fornecedores até funcionários das empresas. Biso Genaro era ruim de cama e tinha ejaculação precoce de alta velocidade.

Bem, para não me estender muito sobre a família, digo apenas que meu avô e depois meu pai eram cópias escarradas de biso Genaro, não só nas características ejaculativas, como no talento para distribuir propinas, o que fez nosso império crescer ainda mais.

Modéstia à parte, eu também herdei todas as características de meu bisavô e até aperfeiçoei, tornando-me, além de empresário de sucesso, um senador multiplicador de minha própria riqueza.

Tudo parecia ir bem, até que, um belo dia cheguei em casa mais cedo e encontrei Margareth, minha esposa, na cama, com o neto do jardineiro. A partir dali, descobri um monte de casos envolvendo Margareth e os mais diferentes tipos, desde Guaracy, o limpador da nossa piscina, até o piedoso padre Jordão.

Para evitar escândalo, divorciamo-nos discretamente e ela levou uma bela grana além de alguns imóveis.

Bem, Dra Abbddas, o motivo de estar lhe escrevendo é porque, no mês passado, eu estava no Rio de Janeiro e conheci Katia Cilene, moça incrível, profissional de uma boate portuária, igualzinho ao que aconteceu com meu bisavô. Foi fulminante, apaixonamo-nos perdidamente. Katia é sincera, atenciosa, carinhosa e confessou jamais ter sentido por um homem o que sente por mim. Em sua opinião, é muito cedo para pedi-la em casamento, ou devo esperar mais um mês?

 

Prezado Nicola Torteletta,

 

Embora não seja religiosa, eu acho que o caso de sua família parece ter o dedo do divino: se por um lado você e seus antepassados ficaram milionários na base do jabaculê, por outro foram castigados com velozes ejaculações precoces e falta de talento na alcova.

Bem, Nicola, desculpe, mas serei curta e grossa: ou você é um completo idiota em termos de sexo oposto, ou sente prazer em dar flagrantes em suas companheiras. Casar ou não casar é uma decisão exclusivamente sua, mas, a menos que Katia Cilene atinja o orgasmo na mesma velocidade de sua ejaculação, as chances de um exuberante arvoredo voltar a florescer em sua cabeça, são de 100%.

 

Abbddas Boccattus

 

 

Sem identidade

Sem identidade

Wander Renaguá ocupava, até o mês retrasado, o cargo de diretor de marketing de uma poderosa multinacional de material esportivo. Era bastante cortejado pelos mais diversos tipos de fornecedores que iam de agências de propaganda e fabricantes de produtos promocionais até veículos de mídia. Convites diários para almoços, coquetéis, jantares, eventos badalados. O assédio era tanto que o Wander acabou por incorporar o poder à sua personalidade, esquecendo-se de que grande parte do prestígio devia-se à função que desempenhava.

Aquele outrora membro de uma família simples de classe média baixa foi se deslumbrando, excedendo-se na prepotência ao lidar com terceiros.

Mesmo os velhos amigos foram sendo trocados por novos interesses pessoais.

Wander passou a consumir tudo o que ele julgava aparentar opulência e poder, desde sua caminhonete Hilux Giant Power Master Plus 2015, até seus ternos Armani, suas gravatas Ermenegildo Zegna e seu Rolex Cosmic Golden Diamond.

Porém, o inesperado aconteceu. A poderosa empresa onde trabalhava viu-se envolvida em um rumoroso caso de corrupção internacional e acabou por reduzir drasticamente sua operação no país, dispensando setenta por cento do seu efetivo. Infelizmente Wander estava entre eles.

Para manter o padrão de vida, não poderia ficar muito tempo desempregado e daí que, para aquele semi-deus, não restou outra alternativa a não ser procurar emprego.

O negócio estava ficando preocupante, pois já havia feito diversas entrevistas e nada. Até que um anúncio no jornal, oferecendo o cargo de diretor de marketing de uma empresa nacional também de material esportivo chamou-lhe a atenção, principalmente porque os interessados deveriam comparecer ao teste psicotécnico dirigindo seu próprio carro.

Ao chegar ao local no horário agendado, Wander foi orientado a entrar com seu Hilux num grande pátio e aguardar dentro do veículo.

Em poucos minutos, Lourival, o gerente de Recursos Humanos, veio até ele, apresentou-se, pediu que saísse do carro e o acompanhasse até a sala de entrevistas.

Antes de se sentarem, Wander foi instruído a tirar toda a roupa, inclusive o relógio, e ficar apenas de cueca.

O primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi de como esses psicotécnicos estavam ficando cada vez mais esquisitos, porém, como estava precisando, fez o que o sujeito pediu.

Em seguida, acomodaram-se em duas poltronas e o gerente deu início ao teste:

“Primeiro você perdeu o seu cargo de poderoso diretor. Agora despojou-se de seu automóvel, de suas roupas e de seu relógio. Está praticamente nu.

A minha primeira pergunta é: Quem é você?”

Wander fez uma expressão meio atônita, fitou os próprios pés, pernas, peito, braços e pulsos buscando a resposta, depois olhou para o vago, em seguida para seu interlocutor e finalmente respondeu:

“Não sei”.

Consultório sentimental No 9

Consultório Sentimental

Responsável: Sexóloga Abbddas Boccattus

Prezada Dra Abbddas,

Embora ainda não tenha completado cinqüenta anos, sou mãe, avó e divorciada. Casei-me muito jovem e até hoje não sei ao certo se valeram a pena os quinze anos de matrimonio. Muitos problemas e poucos orgasmos. Depois tive vários relacionamentos, nenhuma grande paixão e a melhor coisa que me aconteceu foi quando cheguei à conclusão de que não existe príncipe encantado. Nesse momento relaxei e passei a curtir a vida sem ilusões. Até porque, encontrar um relacionamento legal está muito difícil. Não sei se eu é que sou esquisita e não consigo achar um homem normal. Porém, veja se eu não tenho razão: você conhece o cara, começa bater papo e logo ele começa a contar vantagem, procurando me convencer, disfarçadamente, que eu estou diante da pessoa mais incrível do mundo e que deveria sentir-me honrada com tamanho privilégio. Cada um deles com seus “fantásticos predicados”. O Virgilio me diz que é maratonista, um super homem. O Orlando é gênio do mercado financeiro, ganha dinheiro como quem estala os dedos, o Paranhos é poeta e seu coração bombeia flores e mel, o Venâncio é socialista, irônico, tem a grande solução para os males de nossa sociedade doente, o Lima só usa camiseta regata, exibindo o enorme tubarão tatuado no braço musculoso, como se fosse um sinal de testosterona máxima, ereção 24 horas.

Já o Marlon acha que a vida é uma grande cerveja e o Pierre passa o tempo todo ajeitando a tiara, nos seus longos cabelos cacheados.

Mas o motivo de estar lhe escrevendo, Dra Abbddas, é que faz um mês eu conheci o Arquimedes, um cara muito legal, executivo de multinacional, solteiro, cinquenta anos, simpático, gentil, sensível, educado, culto, uma companhia muito agradável. Tudo ia muito bem, até que, após uma romântica noite de queijos e vinhos, decidimos curtir nossa primeira noite de amor. Quiqui, nome carinhoso com que o chamo, estava quase bêbado quando chegamos ao apartamento dele e que eu ainda não conhecia.

Foi aí que começaram as coisas estranhas: fotos antigas de uma mulher espalhadas por toda a sala, duas em dois grandes quadros pendurados na parede e mais quatro, em porta-retratos sobre mesinhas.

Perguntei pra ele quem era e Quiqui, com voz pastosa disse que se tratava de Da Mercedes, sua mãe e grande paixão de sua vida. Falou que era edipiano assumido, mas que jamais tivera algo com Da Mercedes porque, “infelizmente ela sempre repeliu minhas investidas”.

Mesmo um pouco chocada, mas anestesiada pelos efeitos do álcool, acompanhei-o ao quarto, onde, sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama de casal, repousava uma foto sorridente de sua amada genitora.

Quiqui me deu um baby doll com cheiro de naftalina e um enorme M bordado do peito para vestir. E começou a me chamar de Mercedes. Apavorada, eu não sabia o que fazer, mas a sorte estava comigo porque, ao voltar do banheiro, constrangida, usando o tal baby doll, vi que Quiqui apagara e dormia a sono solto.

Escapuli rapidamente, peguei um taxi e fui pra casa.

Desse dia em diante, Quiqui me liga todos os dias, querendo sair. Devido ao porre, ele não se lembra de nada do que aconteceu naquela noite e eu fico dando desculpas para recusar seus convites. Mas, a verdade é que gosto dele, de estar com ele, não sei o que fazer. Por isso estou recorrendo à sua conceituada opinião, Dra Abbddas.

Marlene Caldoverde, 49 anos, Maringá (PR)

Cara Marlene,

O seu caso é de simples solução: de um lado você tem homens imaturos, adoradores de seus próprios egos e com os quais não sente vontade de se relacionar. Do outro tem o Arquimedes. Você sabe que o mercado está ruim, não dá para ficar exigindo muito. Então, minha querida, se você não tem nada contra a letra M ou a existência platônica da Mercedes, a qual já mostrou enfaticamente que não quer nada com ele, vá em frente prá ver o bicho que vai dar. Vai que Quiqui se revela uma grata surpresa sob os lençóis…

Cordialmente,

Abbddas Boccattus

O guru do Facebook

O guru do Facebook.                                                                                                                                                                                                                                                                Até o advento das mídias sociais, Evaristo era uma figura apagada, meio arredia, quase imperceptível a olho nu. O estrelato começou a despontar para ele, quando inaugurou sua página no facebook. Evaristo pode até, pessoalmente, ser um cara apagado, inexpressivo e, talvez por causa disso mesmo, tornou-se extremamente observador. E uma das coisas que ele sacou logo de cara é que no Face, carência afetiva é igual brasileiro em Miami: tá em tudo que é canto.

Outro detalhe importante que chamou a atenção de Vavá (apelido carinhoso que carrega desde a infância), foi o fato de que era extremamente fácil emocionar a platéia e receber expressivas quantidades de curtições e comentários elogiosos. Bastava para isso, postar frases impregnadas de obviedades, falar aquilo que todo mundo quer ouvir. Ou seja, o Face é um gigantesco livro de auto-ajuda. O amor está no Face! A solidariedade está no Face! A amizade está no Face!

E o mais importante: você jamais precisará comprovar o que diz, ao vivo. Virtualmente, o mundo é maravilhoso.

Diante desse quadro absolutamente favorável, Vavá deitou e rolou. Por estar aposentado, ele dispõe de todo o tempo do mundo para curtir, comentar, criar e postar frases, poesias e ditados repletos de banalidades e lugares comuns, sob medida para ganhar as curtidas da galera carente.

E, assim, o nosso herói, em dois anos de Face, já colocou mais de

cinco mil posts e, a título de exemplos, repassamos alguns deles:

“A flor no jardim, como toda mulher, embora delicada, é capaz de resistir aos maiores vendavais, enquanto no asfalto, o caos se instala e a tempestade subjuga o aço bruto dos veículos”

“Se tu não existisses, meu amor, meu nascimento não teria valido a pena”

“Abaixo a miséria! Fartura prá todo mundo”

“Bom dia a todos! Que um raio de sol lhes dê o primeiro beijo nessa manhã!”

“Se todos fossem iguais a vocês, amigas e amigos, que maravilha viver!”

E assim, Evaristo tornou-se um dos maiores ídolos do Face, espalhando amor, dignidade, honestidade, bondade e ternura, diversas vezes ao dia.

Enquanto isso, alheias ao mundo digital, as atrocidades crescem diariamente e os nossos políticos e autoridades, cada vez mais cínicos, continuam livres, leves e soltos, em seus projetos pessoais de desvios astronômicos de verbas públicas.

As bem amadas

As bem amadas

Quem conhece a família Boccattus, sabe que, em se tratando de sucesso com o sexo feminino, Candiddus desperta o maior orgulho entre os parentes. Com um jeito especial de tratar as mulheres, Candiddus coleciona uma enorme e admirável lista de conquistas. Nem feio, nem bonito e sem apresentar relevantes atributos físicos, ele apenas põe em prática seu método simples, porém infalível de seduzir as mulheres. Aos mais curiosos, é bom destacar que ele jamais revelou o seu segredo. Mas, se a gente prestar atenção, dá prá sacar algumas de suas mumunhas.

Absolutamente contrário à máxima atribuída a Nelson Rodrigues de que toda mulher gosta de apanhar, Candiddus, por outro lado, acha perfeito o título de uma das peças do mesmo Nelson, “Perdoa-me por me traíres” a qual, inclusive, inspirou a bela letra de Chico Buarque na canção Mil Perdões: “Te perdôo por contares minhas horas nas minhas demoras por aí, te perdôo por que choras quando eu choro de rir, te perdôo por te trair…”

Trocando em miúdos, para Candiddus o responsável por sua mulher amá-lo ou não, traí-lo ou não, é você mesmo. “Mulher bem amada não tem idéias de jerico. Só de colibri!”, afirma com uma de suas máximas, o sedutor.

E agora ele surpreendeu mais uma vez. Corria a notícia entre a vizinhança, de que Adélia, cansada dos maus tratos e da falta de sensibilidade por parte do Egberto, resolvera sair de casa levando apenas uma mala de roupas. Essa atitude não causou maiores surpresas aos mais chegados do casal, uma vez que o marido jamais dera o devido valor ao tesouro que tinha em casa. Pelo contrário, a cada dia a moça apresentava uma aparência pior, relaxada consigo mesmo, pouco sorrindo e a pele do rosto visivelmente maltratada, como prova de que a felicidade estava passando muito longe dali. Logo ela que há uns anos atrás, encantava o bairro com sua beleza, irradiando simpatia.

Bem, mas verdade é que ela se separou e foi morar na casa de uma tia-avó.

Passados quase dois meses, uma nova surpresa: Egberto vê passar de moto, um casal esbanjando alegria, como se o mundo fosse um enorme parque de diversões. Ficou meio na dúvida, mas para ele tratava-se da Adélia na garupa do Candiddus.

A confirmação veio dias depois ao dar de cara com o novo par de pombinhos saindo agarradinho de um barzinho. Egberto sentiu o golpe. Entrou, sentou-se numa mesa de fundo e pediu ao garçom uma garrafa de Vodka , copo e gelo.

Na quinta dose, aproximou-se dele o velho amigo Geraldo: “Ô Egberto, o que está acontecendo, cara! Pára com isso, levanta a cabeça, vai!”

Egberto, com a voz já meio enrolada, desabafou: “Sabe Gê, o meu maior choque não foi vê-la toda melosa nos braços do Candiddus. O que realmente me abalou, foi constatar que uma sedosa pele de pêssego tomou conta do rosto da Adélia!”

Na Praia de Ipanema

Na praia de Ipanema (2)

Tem coisas que só podem acontecer no Rio de Janeiro.

Sábado ensolarado na Cidade Maravilhosa, resolvi dar um mergulho na praia de Ipanema.

Mar calmo, praia lotada às 4 da tarde, abri a cadeira, sentei-me perto d’água e me entreguei a um dos meus maiores prazeres: observar o vai-e-vem das mais diferentes e incríveis figuraças. Logo resolvi dar um mergulho e depois fiquei por ali, de pé na beirinha, curtindo a água pelos joelhos.

Aproximou-se um sujeito de seus 50 anos, shorts grandes de pano, parecendo estar-se esbaldando no mar.

“Praia sem sol e sem mulher bonita não é praia, já dizia o grande Vinícius de Moraes”, disse ele.

“É mesmo”, concordei, sem nenhuma certeza de que Vinicius falou aquilo mesmo.

“Isso aqui era o paraíso dele”, emendou o homem.

“É verdade. E, pelo jeito, você é fã do Vinícius. Viu o filme sobre ele?”, procurei retribuir à simpatia do homem.

“Vi duas vezes. E tô com vontade de ver a terceira.Tu sabe porque Vinícius morreu?”

“Por quê?”, perguntei curioso.

“Porque ele adorava uísque, bebia muito e não comia. Tu, por exemplo, gosta de beber vodca, mas não deixa de se alimentar, né? Isso faz muita diferença.”

“É mesmo”, respondi ao mesmo tempo em que procurava entender porque o sujeito achava que eu era bebedor de vodca.

“Vinícius sabia viver, né? Comeu muita mulézinha por aqui, né?”

“É”, respondi meio cabreiro, com a nítida impressão de que ele estava me achando contemporâneo de Vinícius.

Por via das dúvidas, encolhi a barriga.

O homem, então, concluiu:

“O Vinícius poderia estar vivo até hoje se tivesse se cuidado. Mas, se tivesse se cuidado, talvez não tivesse vivido tão bem. Morreu feliz. Pior é que a maioria desse pessoal que a gente tá vendo aqui na praia nunca vai curtir a vida como ele. Tem nego que vai durar cem anos, sem ter vivido dez.”

Em seguida, deu tchau, saiu da água, vestiu uma camisa e um boné verdes, ajeitou nas costas um isopor do Matte Leão, um saco grande de plástico cheio de biscoitos Globo na mão direita e saiu pela praia anunciando alto os seus produtos.

Esbaldemo-nos no curral

Um dia de pesadelo

Ano novo, vida velha. Claro, existem variações. Mas, tudo dentro dos limites impostos pelo imenso Curral onde encenamos nossas novelas diárias.

Você poderá rir, chorar, dar cambalhotas, espernear, elogiar, criticar, criar, curtir, postar, fazer tatuagens, colocar piercing, tomar porre, cantar rock , correr, caminhar, usar máscara em protestos, fazer má-criação, beicinho. Tudo é permitido, dentro do espaço estabelecido pela cerca.

Não se esqueça de que temos donos aqui na terra. Fora daqui, embora nunca tenhamos visto, acreditamos que somente Deus possua a nossa escritura definitiva.

Aqui no Curral, conhecemos nossos donos, podemos vê-los e, principalmente, senti-los.

Alguns tentaram pular a cerca e construir espaço próprio. Deram-se mal.

As práticas para crescer dentro do Curral, sempre foram as mesmas: acertos com quem manda.

Isso é coisa muito antiga, várias corporações que ao longo do tempo  tornaram-se robustas, mamaram e cresceram nas volumosas tetas dos governos.

Inúmeras licitações são feitas para inglês ver. Sempre ganham os aliados ou, mais sofisticadamente, os “parceiros alinhados com as diretrizes dos governos”.

E, uma vez lá dentro, é como se você estivesse no Paraíso.

Tudo é fácil, grana a rodo, todo mundo feliz, velhos e novos ricos unidos numa espécie de corporativismo da mamata.

Almoços, happy-hours, jantares, coquetéis, acordos, uma delícia que durará até as próximas eleições.

Esse ano, o sonho de Anggellinnus Boccattus era trabalhar menos, curtir mais a vida. Ainda não vai dar. Mas, pelo cenário que está se desenhando para as próximas eleições, ele acredita que finalmente vai conseguir “se alinhar com as diretrizes de um novo governo”.

E então, no ano que vem, seu sonho finalmente se realizará e Ruddes, eufórico, ganhará inclusão social nas tetas também.

A sexóloga Abbdas Boccattus

A sexóloga Abddas Boccattus

A família Boccattus é grande, tem de tudo, o que é ótimo porque em dia de festa assunto é o que não falta. Dessa vez comemorava-se o aniversário de Manccusus, o membro mais flácido do clã e o local escolhido foi a casa de Irennes na praia de Juqueí, litoral norte paulista.

Talvez devido à distância, muitos parentes não compareceram, mas houve quorum suficiente para garantir a animação.

A roda mais inusitada foi a que reuniu Macchus, Rubbias, Ruddes e Abbdas discutindo a especialidade dessa última: sexo.

O papo provocador começou, como sempre, com Ruddes: “Abbdas, você escolheu uma profissão das mais agradáveis. Embora o tema pareça complexo, a gente tem a impressão de que uma sexóloga detém todos os segredos da sexualidade e é capaz de ter orgasmos com a mesma facilidade com que palita os dentes. Diga uma coisa, prima: uma especialista em sexo estuda comportamentos individuais ou segue um manual, com todo mundo enquadrado na mesma cartilha?”

“Ruddes, existem algumas atitudes e reações que são comuns, mas cada um tem as suas peculiaridades, que, obviamente, devem sempre ser consideradas”.

“Mas, quando você participa de um programa de televisão e fala para milhões de telespectadores, como é que faz?”

“Aí, evidentemente, eu procuro um enfoque generalizado”.

“E o que lhe dá autoridade sobre o tema? Sua vida pessoal, seus estudos, suas observações, o que, afinal?”

“Tudo isso junto”.

“Bem, prima, desculpe a franqueza, mas em relação a estudos, tudo bem, você pode ficar bastante tempo pesquisando, aprofundando-se na literatura sobre o tema.

Quanto às observações, também. Mas, sobre sua experiência pessoal, pelo que eu sei você ficou casada com Apparecciddus por dois anos, separou-se e depois, pelo menos relação fixa, não teve mais ninguém. Seria você uma misteriosa e insaciável Belle de Jour? Custo a crer, uma vez que você mora com a tia Irennes e, segundo ela, dedica-se totalmente ao seu trabalho em casa, pouco saindo, o que a descredencia a incorporar a célebre personagem de Catherine Deneuve, no filme de Buñuel. Escolhi esse exemplo, porque, para mim, uma expert em sexo precisa, necessariamente, apresentar uma considerável milhagem de vôos”.

“Ruddes, para discutirmos essa sua tese, precisaríamos de horas e horas de papo sério, o que não cabe nesse momento”.

Macchus Boccattus, o representante da família quando se trata de machismo exacerbado, decidiu meter a colher: “olha, eu acho que uma mulher que tem ao seu lado um verdadeiro macho, não precisa de sexóloga, terapia, nada. Será sempre uma fêmea feliz”.

Tia Rubbias, 89 primaveras, usina de sabedoria, resolveu, diante do aparte de Macchus, externar sua sempre lúcida opinião:

“Meu querido sobrinho, existem machos e machos. Alguns, realmente, são capazes de, graças a um conjunto de coisas, fazer uma fêmea feliz. Porém, existem outros que, por absoluto desconhecimento da alma feminina, são capazes de traumatizar uma mulher para sempre”.

Macchus olhou desconfiado para a tia, ia fazer uma pergunta, mas preferiu ficar calado, evitando saber em qual dos dois casos Rubbias o estava incluindo.

Abbdas, por sua vez, aproveitou o momento para sair de fininho, antes que o inconveniente do Ruddes insistisse no desagradável assunto da milhagem.

O emprego em multinacional

O emprego em multinacional

Gillus acha que o funcionário de multinacional é o funcionário público com grife.

Ao ser admitido em uma multinacional, você tem de ter claro em sua mente que você é apenas uma micropeça descartável da engrenagem. Ou seja, com você ou sem você, a empresa vai funcionar igual. Não caia na besteira, jamais, de se imaginar com alguma importância na “corporação”.

Se quiser seguir carreira, você tem, antes de tudo, de desenvolver seus dotes de ator ou atriz. Existe um script que, se você seguir à risca, vai trabalhar lá até a aposentadoria.

Primeiramente, vista-se com ternos neutros, discretos, cinza, pretos ou azul-marinho.

Durante o malfadado governo Collor, houve uma abertura para ternos claros, extravagantes e pegava bem ousar no estilo. Com o vexame do impeachment, as roupas voltaram a ficar escuras. Todo mundo receoso de ser confundido com o estilo da ex-República das Alagoas. O corte de cabelos deve ser curto. Para os mais jovens, gel pega bem. Para os mais velhos, escovinha e orelhas abanando.

Diariamente, ao conversar com seu chefe imediato, elogie descaradamente o desempenho dele, pois, com certeza, ele também está elogiando o chefe dele na Europa ou Estados Unidos, seja por telefone, fax ou e-mail.

Se ganhar uma saleta só para você, espalhe quadros pela sala, contendo fotos suas com a esposa, filhos, enfim, uns cinco quadrinhos está de bom tamanho.

Mesmo que você e sua mulher não se suportem e você tenha até uma amante secreta, a Kátia Meire, balconista de uma loja de eletrodomésticos.

O importante é que você transmita à empresa que você é um ser de alto nível, confiável, absolutamente familiar.

Mesmo que, em suas travessuras íntimas com Kátia Meire, você se esbalde vestido de Cameron Diaz e perucas Tina Turner.

Em reunião com algum fornecedor em sua sala, diga sempre, com ar blasé, que você precisa falar com Detroit. Ou com Nova York, ou Londres, ou Madrid, ou Frankfurt.

Na verdade, você vai contatar um funcionário da matriz da empresa, numa dessas cidades. Mas, do jeito que você coloca, parece que manda na cidade de Detroit, ou Nova York etc. etc. Isso impressiona.

Jamais diga que você vai falar com La Paz, Bogotá, Quito etc. etc. É muito importante também que, na conversa com o visitante, você introduza algumas palavras-chave em inglês, como budget, board, up grade, target

Refira-se sempre à empresa como A Companhia.

Se você for mulher, faça um curso intensivo de robô. Mas tem de ser um robô simpático e, de preferência com voz metálica ou anasalada. E fique preparada para agüentar com fair-play, as constantes indiretas de seu chefe, dando a entender que, sob o terno sisudo daquele homem poderoso, existe um ser humano incrível, sensível, o sonho de consumo de todas as mulheres.